SPM ou TPM ?
Síndrome pré-menstrual (SPM) ou tensão pré-menstrual (TPM) constitui um grande problema na vida das mulheres modernas. Manter tripla jornada de trabalho (profissão, maternidade e cuidados com a casa), exige da mulher um a sobrecarga tanto física como psíquica que acaba provocando situações de stress e extremo nervosismo, e muitas vezes depressão e ansiedade desencadeadas pela sensação de impotência frente a tantos desafios.
A TPM, atua como a primeira manifestação de que algo não está bem, e em muitos casos nada mais é do que a válvula de escape utilizado pelo corpo feminino para exteriorizar aquilo que o corpo está sentindo.
Mas o que é a TPM e porque ela ocorre?
TPM, como o nome já diz, é um conjunto de sintomas que aparece na mulher, independente da sua vontade, alguns dias antes da menstruação e que desaparece com o fim da mesma. Durante este período, que pode começar 15 dias antes da menstruação e se estender até o fim da mesma, a vida da mulher pode se tornar um inferno tanto para ela como para aqueles que convivem com ela, não só diminuindo a sua produtividade, mas também prejudicando os seus relacionamentos pessoais e profissionais.
É um período em que a mulher fica mais irritada, chora sem motivo, explode por qualquer coisa, não tem vontade de fazer nada e ainda sente dores principalmente na cabeça (cefaléia ou enxaqueca), nas pernas e mamas, inchaço e compulsão por comer doce.
Embora a TPM sempre tenha existido, somente com a entrada da mulher no mercado de trabalho é que ela adquiriu importância a nível econômico. Estudos realizados em vários paises, demonstram que a TPM pode ocorrer de forma moderada em 30% das mulheres durante a fase reprodutiva, e de forma intensa em 5 a 8% das mulheres. Isto acaba provocando queda não somente na produtividade da mulher, com repercussões para a família e a empresa, mas ainda aumento de gastos na saúde pública pela maior incidência de consultas médicas e compra de medicamentos.
Embora a fisiopatologia da TPM ainda permaneça, em muitos pontos obscura, muito se avançou neste terreno nas duas últimas décadas, permitindo que surgissem no mercado uma dezena de medicamentos que tornaram a TPM menos severa ou muitas vezes inexistente.
Dentre os fatores que provocam a TPM, cinco são fundamentais:
- Hereditariedade: filhas de mulheres com TPM ou depressão terão maior probabilidade de terem os sintomas
- queda dos níveis de serotonina: quando a concentração da serotonina (substância liberada nas terminações das células nervosas) cai, a pessoa torna-se mais deprimida, irritada, agressiva e com vontade de comer doces.
Na mulher esta queda começa a ocorrer por volta do décimo quinto dia do ciclo menstrual (segunda metade do ciclo), e vai aumentando progressivamente, até atingir o seu ápice 24 horas antes do início da menstruação. - Alterações hormonais: a produção de progesterona (hormônio produzido pelos ovários, após a ovulação), não somente provoca muitos do sintomas físicos que aparecem na TPM , tais como inchaço, dor nas mamas, pernas e baixo ventre, espinha, como ainda diminui os níveis de serotonina piorando a depressão e a irritabilidade. Já a queda dos níveis de estrogênios, provoca a tão temida dor de cabeça.
- Aumento na produção de prostaglandinas durante o período pré-menstrual e menstrual, Prostaglandinas: são substâncias que quando produzidas em grande quantidade podem provocar, dor e inchaço.
- Fatores externos, tais como o stress, medicamentos, ou determinadas infecções provocadas por vírus ou bactérias, que interferem no sistema nervoso, no sistema imunológico e endócrino, desencadeando os sintomas da TPM.
Embora já se tenha descrito mais de 150 sintomas, os mais frequentes são: irritabilidade, tensão, ansiedade, depressão, choro fácil, vontade de ficar se isolar, falta de ânimo, agressividade, compulsão por doces, inchaço, dor de cabeça, dores nas pernas, barriga e mamas, espinhas e tudo isto pode piorar pela redução da autoestima.
É muito frequente neste período a mulher demitir-se ou ser demitida do trabalho, ou mais frequentemente provocar brigas com o parceiro. Por isto é muito importante entender, que embora a TPM dure apenas alguns dias, suas consequências podem durar uma vida inteira.
Diagnóstico
Para saber se a mulher tem ou não os sintomas da TPM é necessário que ela passe a anotar o que ela sente ao longo do mês e verifique se os sintomas desaparecem após a menstruação.
A tabela abaixo poderá ser útil não somente para fazer o diagnóstico da TPM , mas também para perceber o quanto os sintomas estão interferindo com o seu dia a dia;
Tabela para ajudar a mulher a verificar se tem TPM e a intensidade dos sintomas. ( Steiner M, Arch Moments ment Health; 2003)
Sintomas ausente leve moderado severo
- Raiva/irritabilidade
- Ansiedade/tensão
- Choro/sensação de rejeição
- Depressão/ desesperança
- Desinteresse pelo trabalho
- Desinteresse pelas atividades domésticas
- Desinteresse pelas atividades sociais
- Dificuldade de concentração
- Fadiga/falta de energia
- Desejo por comida ou doce
- Insônia
- Sonolência/vontade de dormir
- Sensação de opressão ou fora do controle
Sintomas físicos:
- Dor de cabeça
- Cólica
- Inchaço nas mamas, pernas ou abdômen
- Dores no corpo
- Ganho de peso
Verifique de que intensidade os sintomas acima interferem com o seu dia a dia.
Intensidade: leve moderada severa
A – Produtividade ou eficiência no trabalho
B – Nos relacionamentos com colegas de trabalho
C – Nos relacionamentos com a família
D – Suas atividades sociais
E – Suas responsabilidades domésticas
Considera-se intenso ou moderado quando 5 dos sintomas 14 sintomas acima descritos aparecem de forma severa ou moderada.
Intensa: E obrigatoriamente um aos sintomas para diagnósticos dos itens A,B,C,D,E é considerado severo
Moderada: quando um dos sintomas para diagnóstico dos itens A,B,C.D,E é considerado moderado
Se os sintomas forem leves, siga as orientações descritas.
Se os sintomas forem moderados ou intensos procure ajuda de um especialista
Por que tratar a TPM?
Para melhorar, não somente a qualidade de vida da mulher mas também a daqueles que convivem com ela.
Tratamento
O tratamento dependerá não somente da intensidade dos sintomas apresentados, mas principalmente do tipo de sintomas descritos, isto é, se são predominantemente físicos ou psíquicos.
Para iniciar o tratamento deve-se primeiro classificar os sintomas em leves, moderados ou intensos, e observar se eles desaparecem com a menstruação.
Tratamento da TPM com sintomatologia leve
Existem uma série de dicas que podem ser adotadas, que estão descritas no livro “A mulher e os sete grandes desafios”, ou no site: maradiegoli.com.br.
São elas:
- Aprenda a se conhecer para melhor controlar as suas emoções e as suas atitudes.
- Evite compromissos importantes nestes dias principalmente reuniões com a chefia. Caso não seja possível, fale o mínimo necessário.
- Faça exercícios físicos, que melhoram a tensão, a irritabilidade e dão uma sensação de alívio e bem estar.
- Perca alguns minutos a mais se arrumando, pois sua auto estima está baixa e isto irá ajudá-la a se sentir melhor.
- Cuidado com a dieta. Evite comidas salgadas para não piorar o inchaço. Tome menos café, para não aumentar a insônia e a ansiedade, e cuidado com os doces. Se não puder evitá-los, coma em quantidades pequenas.
- Quando tiver pensamentos pessimistas, tente substituí-los por coisas mais alegres. Assista programas humorísticos ou saia para passear e se distrair.
- Alivie a tensão conversando e se possível, tente rir e contar fatos gozados ou mesmo piadas. Evite diálogos tensos.
- Faça alguma coisa pelos outros, pois isto a ajudará a esquecer seus próprios problemas e a fará sentir-se melhor.
- Policie a sua fala: evite criticar alguém, pois qualquer crítica nestes dias, terão uma conotação mais agressiva.
- Evite tomar qualquer decisão importante nestes dias, seja a demissão do emprego ou o término do relacionamento. Aguarde até o fim da menstruação, onde com certeza as ideias estarão mais claras e com menos emotividade.
Tratamento para a TPM moderada ou intensa
Felizmente hoje dispomos de uma dezena de medicamentos, recentes, que podem aliviar vários dos sintomas da TPM, permitindo que a mulher tenha uma qualidade de vida melhor.
Dentre os inúmeros medicamentos que surgiram nas últimas décadas, alguns são específicos para a TPM , outros, foram criados para tratar outras doenças, mas a sua utilização pode ser útil nos sintomas da TPM.
A maior novidade surgiu no campo dos medicamentos que atuam no humor. Com a descoberta da fluoxetina e da sertralina (antidepressivos mais modernos, que atuam no humor e no comportamento das pessoas, sem interferir com a atividade motora ou cognitiva) o tratamento de vários sintomas psíquicos passaram a ser realizado tanto pelo médico ginecologista como pelo clínico geral, embora os casos mais graves continuem precisando do acompanhamento psiquiátrico.
Outra novidade no tratamento da TPM é a redução na quantidade dos hormônios utilizados como métodos anticoncepcionais. A alteração não ocorreu apenas na dosagem, mas também na composição dos mesmos e na forma de administração.
A redução na quantidade de hormônio ingerida pela mulher, para 15mcg de etinilestradiol que reduz a queda abrupta do estrogênio, e com isto reduz a intensidade da cefaléia menstrual e pré-menstrual. Quanto maior a dosagem do estrogênio contido na pílula, maior é a probabilidade de ter a temível enxaqueca durante a menstruação.
As pílulas ajudam ainda a reduzir os sintomas físicos, tais como a cólica, o inchaço das mamas, a sensação de peso no baixo ventre, além de reduzir o sangramento menstrual.
Para as pacientes que sofrem de dores abdominais intensas, associada ou não com endometriose, o tratamento ideal é o uso de medicamentos que interrompam a menstruação. Dentre eles, os mais utilizados são: a pílula contendo apenas progestogênio, de administração contínua e o DIU com hormônio.
E finalmente, medicamentos específicos lançados para tratar os sintomas físicos, tais como a dor de cabeça, onde pode ser utilizado o paracetamol associado à cafeína, que impede a sonolência, tão frequente nestes dias e mais raramente remédios que associam substâncias que além de aliviar a dor provocam relaxamento muscular. Para as demais dores (mamas, pernas, cólica) a melhor indicação são os anti-inflamatórios não hormonais.
Entretanto é importante observar que todos os medicamentos contem indicações e contraindicações e é necessário conhecê-las antes administra-los.
Outras formas de tratamento também podem ser utilizadas não somente para reduzir ou evitar o uso de medicamentos, mas principalmente para melhorar a qualidade de vida destas mulheres. Dentre os tratamentos mais indicados estão, a psicoterapia, que não só ajuda a mulher a se conhecer mas principalmente a saber lidar com suas emoções e os problemas do dia a dia.
A utilização de algumas alternativas de origem oriental, tais como a prática do Yoga, da meditação ou mesmo a utilização da acupuntura podem ser muito úteis no dia a dia ou em mulheres adeptas aos métodos não medicamentosos.
Resumindo:
A TPM hoje é uma queixa muito frequente no consultório médico, principalmente do ginecologista, por ser este o profissional a quem a mulher recorre para falar de assuntos não só referentes à menstruação e o ciclo reprodutivo, mas também sobre a sua sexualidade e problemas conjugais.
Orientações quanto à mudança no estilo de vida, redução das atividades, ou mesmo autoconhecimento são necessárias, mas nem sempre suficientes. Em alguns casos é necessário a utilização de outras alternativas, que já estão à disposição das mulheres que desejam melhorar a qualidade de vida, tornando-se mais felizes e produtivas.