Estresse ou STRESS

Nomes alternativos

Ansiedade; Estar nervoso; Estresse; Tensão; Nervosismo; Apreensão

O que é o stress? Porque ele ocorre? o que acontece no nosso organismo quando ficamos estressados? quais as complicações que ocorrem, se o stress não for eliminado?

Mas o que é o stress? Ele é uma doença? ou apenas uma exteriorização do que estamos sentindo e pensando? Porque ele ocorre? o que provoca no corpo humano?

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o stress afeta mais de 90% da população mundial e é considerado uma epidemia global. Na verdade, sequer é uma doença em si: é uma forma de adaptação e proteção do corpo contra agentes externos ou internos.

O estresse pode ser definido como um estado antecipado ou real de ameaça ao organismo e a reação do mesmo, que visa restabelecer o equilíbrio através de um conjunto de respostas fisiológicas e comportamentais. A manutenção deste estado de equilíbrio é essencial para a vida e é constantemente desafiado por forças internas ou externas.

O stress pode ser causado por fatores psicológicos ( brigar com o cônjuge, falar em público, vivenciar luto, mudar de residência, fazer exames na escola ou de vestibular), fatores físicos (excesso de trabalho, correr uma maratona ou fatores biológicos (como a aquisição de alguma infecção bacteriana).

A reação do organismo aos agentes estressores pode ser dividida em três estágios. No primeiro estágio (alarme), o corpo reconhece o estressor e ativa o sistema neuroendócrino. No segundo estágio, (adaptação), o organismo repara os danos causados pela reação de alarme, reduzindo os níveis hormonais. No entanto, se o agente ou estímulo estressor continua, o terceiro estágio (exaustão) começa e pode provocar o surgimento de uma doença associada à condição estressante, pois nesse estágio.

Quais são as reações que acontecem em cada órgão do nosso corpo quando estamos em estressados?

Agudamente a resposta ao estresse é adaptativa e consiste em preparar o organismo para enfrentar o desafio. O objetivo da resposta aguda ao estresse é essencialmente o de induzir uma rápida mobilização de energia nos locais apropriados. Nesse sentido, o aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, da frequência respiratória e a mobilização de glicose dos depósitos, contribuem para a disponibilização de energia. Por outro lado, a inibição da digestão, do crescimento e da reprodução, leva a uma economia de energia. Outras respostas, como analgesia e melhora na memória e percepções, facilitam as respostas de luta e fuga.

São várias as repercussões do stress no corpo humano. O stress vai atuar em vários sistemas, provocando lesões a curto e longo prazo. De uma forma didática, podemos dividir as reações segundo o órgão envolvido no processo
Para facilitar o entendimento do que ocorre com o corpo humano em situação de stress, vamos descrever as modificações que ocorrem em diferentes órgãos e suas consequências, a curto e longo prazo ( Viviane Sampaio, Antonio Waldo Zuardi, etc):

1. Cérebro: o hipotálamo e a hipófise comandam o estresse no corpo. O hipotálamo reconhece a informação emocional do ambiente e manda para a hipófise, que estimula as glândulas suprarrenais. Esta libera vários neurotransmissores e hormônios, dentre eles a endorfina, que é um analgésico muito potente e a serotonina, responsável pelo controle do humor. Quando submetidos a situação de stress contínuo o cérebro diminui a produção das endorfinas e da serotonina, tornando a pessoa facilmente irritável e, às vezes, insone.

2- Glândulas suprarrenais: As glândulas suprarrenais produzem o cortisol a adrenalina e os hormônios da suprarrenal, que quando liberados vão atuar no organismo causando não só uma queda na resistência às infecções, como também grande parte das reações vitais para a defesa e o ataque. Quando estimulada, a suprarrenal libera cortisol e adrenalina. O cortisol age como anti-inflamatório e o seu excesso destrói a resistência do corpo às infecções. A adrenalina prepara o organismo para grandes esforços físicos. Aumenta o ritmo cardíaco, a tensão arterial e o nível de açúcar no sangue. Minimiza o fluxo sanguíneo nos vasos e no sistema intestinal e maximiza o fluxo para os músculos nas pernas e nos braços.

3. Coração: A resposta aguda ao estresse pode ter consequências diversas dependendo se ocorre em indivíduos expostos ou não ao estresse crônico. A liberação aguda de adrenalina e noradrenalina no tecido cardíaco, durante o estresse, estimula os receptores β- adrenérgicos aumentando o influxo de cálcio nas células do miocárdio, resultando num aumento da força de contração e da frequência cardíaca, com o aumento da contratilidade, da condutividade e da excitação. Simultaneamente, ocorre uma liberação de óxido nítrico pelo endotélio das coronárias, produzindo uma vasodilatação nas artérias coronárias, suprindo a necessidade aumentada de oxigenação. A disfunção do endotélio aterosclerótico reduz a liberação de oxido nítrico predispondo a um espasmo coronário e juntamente com a estimulação β- adrenérgica media a formação de fatores pró-coagulantes, aumentando o risco de formação de trombos9. A liberação de glicocorticóides pela estimulação do eixo HHA, pelo estresse potencia a resposta simpática, aumenta as catecolaminas e facilita o dano do miocárdio favorecendo a contratilidade e a apoptose (morte) celular10.

Este conjunto de mecanismos fisiopatológicos justificam a associação do estresse com o aumento no risco de infarto do miocárdio e morte súbita por arritmia ventricular. Inúmeros estudos epidemiológicos encontram maior risco de doença coronariana com alto estresse profissional (trabalhos com alta demanda e baixo controle ou com desproporção entre a intensidade do trabalho e o reforço) e/ou conjugal.

4. Respiração: o aumento do suprimento de ar faz as narinas se abrirem e todas as passagens de ar dos pulmões se dilatarem, favorecendo a captação de mais oxigênio. A respiração fica mais rápida e ofegante. Em excesso, pode causar pânico, fobias, etc.

5- Metabolismo

A liberação de glicocorticóides, pelo estresse, tem ações bem conhecidas sobre o metabolismo de carboidratos. Os glicocorticóides produzem a resistência à insulina prejudicando a entrada de glicose para o interior das células e inibindo a secreção de insulina. Agudamente essas respostas ao estresse têm um sentido adaptativo no sentido de aumentar a disponibilidade de glicose circulante. A persistência, por longo prazo, de níveis elevados de estresse pode contribuir para desencadear a diabetes, pelos mecanismos revistos acima em interação com os múltiplos fatores envolvidos nesta doença.

Os efeitos do estresse sobre o metabolismo de lipídeos produz uma lipólise com a transformação dos triglicerídeos em ácidos graxos livres e glicerol. Os ácidos graxos livres são uma fonte importante para a geração de energia, necessária nas respostas de luta ou fuga. Adicionalmente os glicocorticóides, que estimulam o apetite, possibilitando assim um suprimento maior de triglicérides pela alimentação.

Com o estresse crônico, no entanto, o excesso continuado de glicocorticóides pode levar a um acúmulo no depósito de gordura predominantemente no tecido adiposo visceral do abdômen. Por sua vez a maior obesidade visceral representa um fator de risco para a aterosclerose, já que o tecido adiposo intra-abdominal é uma fonte importante da citocina pró-inflamatória interleucina .Esse conjunto de alterações relacionadas constitui a chamada Síndrome Metabólica, que se caracteriza por:

– obesidade abdominal;

– hiperglicemia;

– dislipidemia (níveis elevados de triglicérides, níveis elevados de LDL colesterol e baixos de HDL colesterol);

– hipertensão arterial.

 

6- Sistema imunológico

A alteração do sistema imunológico, facilitando o desenvolvimento de infecções que normalmente ocorre em pessoas submetidas a situações de stress intenso , ou prolongado, já é conhecida desde a antiguidade. frente à situação de stress, o cortisol, resultante da ativação da supra-renal, diminui não só a produção dos os glóbulos brancos, mas também a proliferação de linfócitos, e a migração de granulócitos e a produção de anticorpos. A persistência do estresse mantém os níveis de glicocorticóides elevados, resultando em imunossupressão, que facilita a ocorrência de doenças infecciosas, podendo contribuir, também, para o surgimento e disseminação do câncer, pela redução da destruição de células tumorais.

A interação entre o estresse e a resposta imunológica, no entanto, é muito mais complexa, não se limitando à imunossupressão. É bem conhecida a associação entre o estresse e doenças alérgicas e auto-imunes. Esses efeitos aparentemente contraditórios começam a ser mais bem entendidos com o avanço no conhecimento dessa interação.

As respostas imunes são reguladas por componentes da imunidade inata (monócitos/macrófagos e outros fagócitos) e por componentes da imunidade adquirida (entre eles os linfócitos T helper, com suas subclasses Th1 e Th2). Durante o estresse ocorre uma inibição na produção de IL-12, desencadeando uma cascata de conseqüências, que resultam numa mudança do equilíbrio entre respostas Th1/Th2. A resultante desse desequilíbrio é uma diminuição da imunidade celular e um aumento da imunidade humoral. O aumento na susceptibilidade às infecções ou agravamento no curso das mesmas, pelo estresse, pode ser entendido pela diminuição da imunidade celular, decorrente da diminuição das atividades Th1. Já a associação do estresse com as doenças autoimunes é mais complexa. O aumento da imunidade humoral, resultante do predomínio das atividades Th2 induzidas pelo estresse, participa da fisiopatologia das doenças autoimunes. A associação entre o estresse e a progressão de tumores e o aumento de mortes relacionadas ao câncer, pode ser explicado pela diminuição da atividade de células NK e componentes da imunidade celular.

 

7- Aparelho Gastrointestinal

Muitas evidências sugerem que o estresse agudo altera as funções gastrointestinais, através do sistema nervoso autônomo. A ativação do sistema nervoso simpático e inibição da atividade vagal resultam numa inibição seletiva da motilidade gástrica e do intestino delgado, bem como, da secreção de ácido e de enzimas digestivos, e aumento da motilidade do colon. As respostas gastrointestinais ao estresse agudo são consideradas adaptativas, uma vez que economizam a energia dos processos digestivos para serem utilizados nas reações de defesa e aumentam a eliminação de resíduos desnecessários ao organismo, diminuindo seu peso4.

A cronicidade do estresse, no entanto, pode resultar num distúrbio, conhecido como síndrome do cólon irritável, que é uma doença funcional caracterizada por cólicas, distensão abdominal e diarréia.

O estresse pode contribuir também na fisiopatologia da úlcera péptica, em conjunto com uma série de outros fatores, como, por exemplo, a presença do “Helicobacter pylori”, a insuficiência de prostaglandinas e a imunossupressão. A diminuição da irrigação gástrica e da secreção de acido, produzida pelo estresse, é acompanhada da diminuição do muco que protege a parede do estomago, de seu próprio acido. Assim, quando o acido volta ser secretado vai encontrar uma parede mais vulnerável, predispondo à gastrite, e ulcerações.

8. Tireoide: os hormônios da tireoide aceleram o metabolismo do corpo que, com isso, queima mais depressa seu combustível e fornece energia adicional para a fuga. O excesso desse hormônio causa intolerância ao calor, tremedeira, perda de peso, insônia, exaustão ou esgotamento.

9. Hormônios sexuais: há redução da testosterona e progesterona. Isso afeta a fertilidade e a libido. Na mulher é frequente ocorrer alterações menstruais, que podem evoluir para a amenorréia, isto é, a ausência da menstruação . No homem ocorre diminuição da libido , disfunção erétil e dificuldade para atingir o orgasmo. Tudo isto afeta a fertilidade.

10. Sentidos: intensificação total. A pupila se dilata e proporciona uma visão noturna e periférica melhor. A audição, o paladar e o olfato se aguçam. Em excesso, percebem-se menos os detalhes, gostos, cheiros, etc.

10. Pele: a pele se arrepia e o eriçamento dos pelos acentua o tato. A pessoa transpira mais e resfria os músculos superaquecidos. Pode acontecer também palidez amarelada da pele, que é o resultado do desvio do sangue para o coração, músculos e pulmão. Esse desvio reduz a perda de sangue no caso de ferimento.

11- Queda de cabelo

O stress provoca uma acentuada queda de cabelo, decorrente de vários fenômenos, entre eles a diminuição da irrigação capilar. O ativação dos hormônios da supra renal, por terem uma ação androgênica (isto é semelhante à da testosterona) atuam no folículos pilosos produzindo a perda de cabelos. Em casos extremos, e mais graves pode ocorrer a perda total do cabelo, também denominada de calvície areata

12-Maxilares – A pessoa estressada costuma ranger os dentes, o que pode desgastá-los e deslocar a mandíbula a ponto de pressionar os nervos da face. Isso produz zunidos nos ouvidos e até tonturas . Muitas vezes é necessário procurar o dentista para fazer placas de silicone que protegem os dentes durante a noite, evitando o bruxismo.

13-Mãos e pés – Um dos maiores indicadores de tensão é suar frio nas mãos e nos pés. O aumento da sudorese também ocorre nas axilas, gerando o odor, típico de situações de medo, ansiedade ou stress.
O que podemos fazer para lidar com o stress?
Há providências cotidianas simples que devem ser observadas, quando possível, para lidar com o stress. Veja algumas delas:

No trabalho

• Se está enfrentando um problema com o chefe, tente desviar o pensamento para coisas agradáveis.
• Se você é irritadiço, trate de conter o impulso. Descarregue o ódio numa atividade física.
• Não queira resolver tudo sozinho. Delegue. Sob tensão, até as tarefas simples parecem insuportáveis.
• Não leve trabalho para casa.
• Quando sair do escritório, deixe as preocupações profissionais dentro da gaveta.

Fora do trabalho
• Desligar-se é a regra geral. Veja televisão, assista a um vídeo, leia um livro.
• Viaje sempre que possível nos finais de semana e saia para jantar.
• Converse a respeito de seus problemas com os amigos.
• Tente técnicas de relaxamento.
• Toda atividade repousante vale a pena, como sauna, massagem ou algum esporte. Caminhar em parques é uma grande idéia.

Casos mais graves
• Tire alguns dias de folga e vá para um spa. Se os sintomas não passam, procure ajuda de um especialista.

Publicado na revista veja.abril.com.br/idade/exclusivo/180902/stress_entrevista.html‎ Se o médico lhe receitar calmantes, tome apenas no período prescrito.

 

 

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